Blog do Paullo Di Castro


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Censura

Me contive por vários dias para não escrever sobre isso, mas com um repercussão deste tamanho, e com fatos novos motivados por esse cenário, não dá pra deixar de refletir aqui sobre as colocações usadas sobre o tema censura na reta final do processo eleitoral de Goiás. E nada pior que explodir a bomba no ninho da imprensa, o melhor jeito de confundir o eleitor.
Como o Brasil e vários lugares do mundo viram Paulo Beringhs, folclórico jornalista goiano, que eu cresci vendo na telinha, e pensando que um dia poderia trabalhar com ele, ou apresentar um jornal como ele. Muitos anos depois, mudo o pensamento, após o que vi uma semana atrás, na quarta-feira, 20 de outubro de 2010, quando peguei o final do jornal Brasil Central para assistir e me deparei com a parte do vídeo que milhares de pessoas viram no youtube, a ficha demorou a cair. Estava presenciando uma auto-demissão ao vivo, mas não em nome da dignidade, mas do partidarismo e calor eleitoral que muda a cabeça de muitas pessoas, jogam ética e profissionalismo no ralo, mesmo quando tentam maquiar de várias formas.
Mas não quero me prender nesse assunto, o que foi feito está feito, e ainda vai passar muita água em baixo dessa ponte. Mas o fato desmembrou duas questões peculiares, uma positiva: a discussão sobre a TV pública no Brasil, e a outra totalmente antiquada e prepotente: a ação pela censura ao twitter promovida pelo PSDB goiano.
Quanto a primeira, realmente o controle do Estado em um veículo de televisão deve estar acima de qualquer espaço privilegiado para determinado grupo político ou social. A educação deve ser prioridade, tanto em programas infantis, como nos outros segmentos informativos. A TV Cultura luta por esse modelo, mas escorrega em alguns pontos em que a TV Brasil, a Sesc TV e o Futura acertam mais. É uma pauta importante, defendida pelo professor Luiz Signates (UFG/PUC-GO), que promoverá esse debate começando no sábado, 30, às 9h00 na Rádio Universitária.
A outra repercussão maior, foi motivada pela ação encabeçada pelo deputado tucano Daniel Goulart, que encaminhou à Polícia Federal representação contra supostos panfletos apócrifos ao candidato Marconi Perillo, e de perfis no twitter atacando o mesmo. Fiquei impressionado com essa atitude, vinda de um grupo com o passado e o presente de tantas repressões contra a liberdade de imprensa, de uso indiscriminado de materiais ofensivos aos outros candidatos, além de ataques virtuais, principalmente via twitter nessas mesmas eleições, formaram um exército digital, de inúmeros perfis fakes e reais remunerados, que anunciavam a renúncia de candidaturas que se mantinham firmes, além de criarem factóides diários contra os adversários, que por vezes vendiam a imagem ao eleitor de inimigos.
Nessa verdadeira guerra eleitoral, Vanderlan Cardoso (Alcides Rodrigues e Jorcelino Braga) e Marta Jane foram os mais atingidos, a arma mais usada foi o Diário da Manhã, em intervenção pelo PSDB, e manchando a história de luta na imprensa de Batista Custódio. A artilharia contra Iris sobrou só para o segundo turno. Se plantar que o PMDB tem tradição de censurar a imprensa goiana, sendo Marconi o político que mais processou jornalistas em Goiás, é uma contradição imensa.
Essa foi a realidade que vi nesses meses de pré-campanha e campanha oficial. Outros grupos também usaram de armas imorais, mas não dessa proporção, com essa estrutura de campanha. O twitter foi o espaço mais democrático que se abriu nesse processo eleitoral. Essa voz não pode ser calada, o que fez ela ser usada para mais ataques. Agora a tentativa de se abortar o uso desse espaço é uma atitude irracional e de graves conseqüências. Com a chegada ao poder de gente com essa mentalidade, a instabilidade do campo de idéias digital pode ter proporções perigosas.
Por esses e outras, Paulo Beringhs não é um cara peitando um sistema em nome de um afronta à liberdade, ele é um partidário, filiado, amigo pessoal e media training de Perillo nessas eleições. O candidato dele teve espaço como nunca em seu programa, e isso não era motivo para se chutar o balde daquele jeito. Se esse senhor entrar efetivamente no governo caso Marconi ganhe, veremos o tamanho da sua dignidade. Assim como de vários jornalistas e outros profissionais que desceram ao mais baixo nível nessas eleições para conseqüentemente afrontar quem estivesse do outro lado.
As eleições finalmente estão chegando, e a contabilidade de feridos nesse processo não será conhecida por um bom tempo. Os dois maiores figurões da política regional em um confronto de revanchismo, não deixa pedra sobre pedra ao fim do processo. A decisão do dia 31 vai esclarecer aos poucos muito do que falei, outras coisas ficarão para sempre ocultas, no estilo DOPS de ser.
O maior perseguido em terras goianas, Jorge Kajuru, diz que no Brasil não existe liberdade de imprensa, mas sim liberdade de empresa. O problema maior é quando a imprensa está controlada pelas empresas ligadas ao poderio político.

Um comentário:

  1. Pra mim não tem lado certo nessa história. Simples assim!
    PH

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