Em meio a uma chuva de
críticas aos eleitores de Trump, uma coisa para se ressaltar dos Estados Unidos
é o sistema partidário bilateral, sempre tendo nas cabeças dos processos
eleitorais dois postulantes. Dando uma distinção superficial, temos um de
frente mais conservador e ostensivo (Partido Republicano), e outro mais liberal
e articulado (Partido Democratas).
O sistema de colegiado
representativo é controverso? Sim! Mas o ponto que realmente é digno de
reflexão é a alternância de poder dos últimos anos. Nenhum ficou mais de 8 anos
consecutivos em mandatos. Isso é saudável para a democracia. O Brasil, ainda
precoce no processo democrático sabe o porquê, da pior forma.
Hillary Clinton e Donald
Trump protagonizaram a eleição mais acirrada, ácida, turbulenta talvez de todos
os tempos. A mídia em grande maioria, institutos de pesquisas e classe artística,
deu como vitoriosa a eleição da democrata. Muitos subestimaram a força de
Tramp, pelo fato de sua imagem ser um produto midiático ascendente com chance
de alta rejeição, sem nenhuma candidatura anterior no currículo.
As declarações claramente
xenófobas contra os imigrantes, em tempo de acolhimento de refugiados que não
tem opção para sobreviver, a não ser abandonar suas pátrias em guerras, é
realmente preocupante. Mas até que ponto ele sustentará e colocará na prática
esse discurso? Mesmo tendo maioria no Congresso, lutar contra uma parcela
significante até o fim é um caminho improvável na democracia.
A questão climática é outro
espinho. Ignorar o aquecimento global é preocupante. O extremo oposto de um
militante oportunista como Al Gore, não consegue agregar o apoio de nenhum país
se passar por cima dessa questão. Mas ele teria esse poder? O ex-presidente
George W. Bush mostrou que sim, ao não assinar o Protocolo de Kyoto,
compromisso entre países pela redução de gases poluentes.
Construir um muro na
fronteira com o México e falar que os vizinhos é que vão pagar é outra falácia inconcebível.
Ambas tem em comum um posicionamento firme, truculento, mas de clara inclinação
repugnante para o separatismo. Isso contemplou uma maioria que prefere essa
postura do que a continuidade do governo de Barack Obama, e do marido da
candidata derrotada, Bill Clinton.
O próprio Trump baixou o tom
que tomou conta da campanha em suas primeiras declarações após a confirmação da
vitória, se comportando como legítimo republicano pela primeira vez. O momento
nosso é de temperança. Não adianta gastarmos energia e pensarmos nas piores consequências.
Trump pode ser a ponta do iceberg, e hoje é o problema que enxergamos. Se não
olharmos nossas bases econômicas, sociais e culturais criticamente e com desejo
concreto de promover mudanças, não teremos boas conquistas, independente de
quem está ocupando o cargo mais cobiçado do planeta.
Prever os dias que virão nós
não conseguimos, mas isso não significa destoar da construção de uma retomada
em crescimento do nosso país. As relações Brasil e Estados Unidos
historicamente são boas, mas não nos coloca em posição privilegiada com a
mudança estadunidense agora. O sonho
americano vai virar pesadelo para muitos que ainda querem trocar a pátria? Só o
tempo dirá, mas acabar essa ilusão pode ser benéfico para a gente se concentrar
mais em nossos problemas e deixar de sonhar os sonhos de outros.
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