Blog do Paullo Di Castro


sábado, 24 de outubro de 2015

De volta para o presente


Chegou o dia 21 de outubro de 2015, data prevista para a viagem no futuro lá nos anos 80, vivida pelos personagens Marty McFly e Dr. Emmett Brown na série de filmes “De volta para o Futuro” representado atores Michael J. Fox e Christopher Lloyd respectivamente. Diversas homenagens e comparações foram feitas para aquilo que o cinema idealizou e o que temos hoje. Eles acertaram muita coisa, e em outras estamos perto ou longe de ter, assim como surgiram outras que nem chegam perto do que foi sonhado lá atrás.

Em meio e a tudo isso tive um sonho bem interessante. Sonhei com esses caras vindo parar em Goiânia! Sim, minha querida terra que completa 82 anos nesse 24 de outubro. Como sou vizinho da Praça Cívica, ao centro da cidade, caminhava despreocupadamente quando avistei o DeLorean ao lado do Monumento das 3 Raças. Segue o diálogo após me apresentar para aqueles dois figuras.

- Como é que é? Viemos para no Brasil? Terra de Pelé! Vocês continuam jogando aquele bolão, como Seleção de 82? – perguntou Dr. Brown.

- Éeee...Não exatamente! Fomos pentacampeões, mas nosso time não anda lá essas coisas. A Alemanha ganhou de 7x1 na última Copa, que por acaso foi aqui....

- Eita! Mas vamos mudar o papo. Tou vendo umas arquiteturas que não parecem coisa de século XXI, estamos mesmo em 2015? - perguntou McFly.

- Sim, estamos. Nós temos orgulho em Goiânia de ter essa arquitetura de Arte Déco, como esse Palácio verde, que é sede do governo. Esse monumento ao lado simboliza o homem branco, o indígena e o negro, que já moravam aqui e ajudaram na construção da cidade.

- Uau, e os indígenas, como vivem hoje? Tenho muita curiosidade para saber sobre eles -  disse Dr. Brown.

- Não muito bem, muitos não possuem demarcação de suas terras e vivem com muita influência de nós da cidade, pegam nossas doenças que antes não pegavam, tem acesso difícil à educação e saúde e muitos são mortos, infelizmente. Os negros estão mais inseridos na identidade do brasileiro, mas ainda tem os que ficam em suas comunidades, chamadas de quilombolas, e os que tentam preservar sua cultura em várias cidades.

- Que triste! Eles mereciam tratamento melhor. Mas você nos leva pra dar uma volta na cidade? Quero muito saber as novidades que temos por aqui.

Então os conduzo pela Av. Goiás abaixo, eles ficam admirados com a beleza das ilhas e com o tanto de carro que passa. Passamos pela estátua da Praça do Bandeirante, e fico com medo de responder de quem se trata, ainda mais depois do que ouviram sobre os negros e os índios. Sorte que não perguntaram. Viram de longe o Estádio Olímpico e Centro de Excelência e pediram pra ir lá. Com vergonha respondo que não está pronto, mesmo sendo derrubado pra reforma desde o ano 2000. Chegamos na Praça do Trabalhador, eles pedem pra ver a Maria Fumaça de perto.

- Podemos dar um passeio nela? Seria fantástico! – pergunta McFly.

-Infelizmente não. Está desativada. Hoje o país muitos poucos trens em funcionamento.

- Mas como vocês transportam carga por esse país tão grande? Já inventaram transporte aéreo mais funcional? Até agora estive olhando para o céu e não vi nenhum! – disse o doutor.

- O transporte aéreo ainda é muito caro. Para passageiros ficou popular, mas os aeroportos com frequência ficam lotados e nos faz ter longas esperas, fazendo conexões pra todo lado.

- Que desperdício de tempo! Mas tem um transporte mais rápido por terra? – pergunta McFly.

- Pra cidade estão construindo na Avenida que passa aqui, tá vendo aquele monte de terra adiante? Pena que pra isso derrubaram muitas árvores.

- Por que não fizeram subterrâneo para poupar as pobres árvores e dar mais qualidade de vida pra vocês? – questiona Dr. Brown.

- Os custos são muito altos, mas teríamos condições sim, porém o que mais impede é a corrupção em todas as esferas da sociedade.

Depois disso continuamos o passeio. Sigo na Av. Independência até o Lago das Rosas. Eles se admiram com a beleza de lá, e perguntam o que mais tem pra ficar tudo cercado.

- Aqui também é o zoológico da cidade, várias espécies de animais estão aí, presas.

- Ainda com essa ideia de deixar os bichos presos no meio da cidade? Que sociedade burra a nossa! Por que não soltam eles no habitat natural, longe de nós? Eu desenvolveria uma realidade virtual que seria bem mais emocionante que ver eles desse jeito! – diz o doutor.

Percebo que McFly está chorando em silêncio. Ele viu uma mãe com bebê no colo sentada na calçada enquanto o marido com o filho pequeno ao lado pede dinheiro no sinal na Avenida Anhanguera.

Continuamos até o Setor Bueno, vão comentando várias coisas no caminho. Chegamos no Parque Vaca Brava. Eles ficam perguntando se não é perigoso alguns que andam de bicicleta em meio aos carros.

-É sim, estão fazendo ciclovias para se andar só de bicicleta. Mas ainda tem poucas e algumas em más condições.

- Pelo tanto de carro que temos visto aqui, acho que eles que tem prioridade. – acerta na mosca o Dr. Brown.

Tomamos uma água de côco por lá, depois fomos ao Shopping para tentar mostrar algo “moderno” para eles. Só chama atenção deles o celular touch screen e o tablet (vi um sorriso de satisfação no Dr. Brown de já ter inventado aquilo). No cinema 3D acharam legal, mas saíram com a sensação de que esperavam mais.

Seguimos o city tour pela T-63. Perguntam do monumento de lá e eu desconverso. Acho melhor levar eles pro Areião. Ficam encantados com os bambus e os macacos de lá, até que um deles rouba a pipoca de McFly.

Então fomos para o Parque Flamboyant, acho que enjoaram de parques, apesar de terem gostado, admiraram o tanto de prédio na região e ficaram incomodados com alguns sons alternativos e shows de duplas que haviam ouvido por lá e antes no Marista.

Resolvi levar eles pro Centro Cultural Oscar Niemayer. Muita gente andando de skate e patins. McFly ficou doido pra saber se já tinham inventado o skate que flutua. Ficou decepcionado que ainda não existem no mercado.

- O que funciona em cada prédio desse? - pergunta o doutor.

- Ali tem o Palácio da Música, tem shows muito bons, desde rock a música clássica.

- E aquele ali? – aponta para onde eu menos queria.

- Beeem, era pra ser uma Biblioteca, só que não foi liberada para uso, não suportaria o peso dos livros.

-Uai, mas aqui não leva o nome daquele famoso arquiteto, não foi o que projetou a capital? – diz, coçando a cabeleira.

- Sim, mas o projeto não é exatamente dele.

- Aaah...

Desconverso de novo e eles fazem menção de querer ir embora, não sem antes comer uma típica comida goiana, da qual apaixonaram, após serem orientados a não mascar o caroço do pequi.

Volto para deixá-los na máquina, e bem receoso pergunto o que acharam da cidade como um todo.

- Sabe, eu sempre dei valor a construção de grandes edifícios, de máquinas ultramodernas e invenções que ajudam o povo a viver melhor. Mas hoje estou mudando meu conceito. Acho que prefiro a simplicidade de um povo acolhedor, as belezas naturais iguais a que vocês tem sobrando aqui. Notei muita coisa ruim, fruto de irresponsabilidade principalmente das autoridades de vocês, mas o que tem de mais valor aqui é a identidade de vocês. Não percam esse jeito acolhedor e simples! Diz o doutor aplaudindo.

Já constrangido, olho para McFly e vejo novamente ele chorando.

- Cara, nunca imaginei que depois de tantos anos vocês iam conservar coisas tão bonitas mesmo com tanta maldade no mundo. O doutor tem razão, continuem assim! O maior tesouro de vocês está naquilo que receberam na natureza e no que são.

Me despedi dos novos amigos e caminho para casa com um turbilhão de coisas no pensamento. Mas as últimas palavras deles reverberaram muitas vezes. Que bom viver em 2015 e não perder valores que valem muito mais que qualquer coisa que o homem possa fazer!

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