Blog do Paullo Di Castro


sábado, 28 de maio de 2011

País da impunidade

Cerca de onze anos atrás o Brasil assistia estarrecido um relacionamento profissional, que ultrapassou o campo pessoal, logo após o rompimento, acabar em morte. Tendo como pano de fundo a redação de um dos maiores jornais do país, uma jornalista termina o namoro com seu chefe, que a faz pagar com a vida. Se o crime fosse coberto de mistérios, pareceria fácil um roteiro de novela ou de livro da Agatha Christie.

Mas a coisa foi mais transparente que se imaginava. houve testemunhas e o réu foi confesso. Apenas sete meses foi o tempo em que aguardou na prisão até se seguir a peregrinação que demoraria tanto tempo para o mandar de volta. Seu status profissional e de idade aparentemente não seriam empecilho para um julgamento mais severo, mas de alguma maneira foram, principalmente pelo trabalho que sua defesa travou para poupá-lo ao máximo do que merecia.

A emblemática frase dita pelo condenado fala por si só: "Se você não é minha, não será de ninguém!", mostra a obsessão que o advogado e jornalista, já sexagenário na época, tinha pela ex-namorada. A diferença de idade era um ingrediente mínimo no agravante que levou ao triste fim da vítima. O desequilíbrio do então imponente homem tomou a proporção extrema que tirou uma vida.

O julgamento já demorou quase seis anos para finalmente sair a condenação. 19 anos era a sentença inicial, porém, logo uma liminar o salvou. Depois disso, uma sequência de recursos foi percorrendo todas as instâncias do Poder Judiciário, até enfim dar o último suspiro essa semana, no Supremo Tribunal Federal. Todas as brechas possíveis da nossa lei frouxa e defasada foram usadas, um jogo intenso dos advogados nos Tribunais que permitiram todo esse atraso para uma sentença que esperou mais de uma década para sair.

Episódios como esse mostram a fragilidade da justiça brasileira, que mesmo legitimando coisas assim, não escapa de uma análise revoltante para com sua morosidade. O Código Penal e demais dispositivos da lei que permitem que um assassino fique tanto tempo livre, e relaxe sua prisão a poucos meses, infelizmente se prestam a um papel de tolerância com o intolerável. 

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