Foto: Polícia Federal |
Até poucos dias atrás a maior peça de flagrante da investigação da Força Tarefa da Operação Lavajato era da mala com R$ 50.000 transportada pelo deputado Rodrigo Rocha Loures, braço direito do presidente Michel Temer. O que ninguém de bem na República podia imaginar na proporção é que aquela era só a ponta do iceberg. A apreensão de uma série de malas em casa atribuída ao ex-ministro Geddel Rocha Lima, em que foram necessárias várias horas para serem contabilizadas as cédulas encontradas e chegar no exorbitante valor de R$ 51.000.000 (cinquenta e um milhões)! E não era tudo: em dólares foram encontrados mais de 2 milhões e meio.
Como
não bastasse de notícia alarmante no dia, tal apreensão ocorreu na mesma terça
em que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, foi
conduzido pela Polícia Federal para dar depoimento sobre compra de votos na
candidatura do Rio de Janeiro como sede dos jogos em 2016, na operação Fair
Play, desdobramento da Lavajato. Um negócio bastante lucrativo para seus
operadores visto toda infraestrutura montada com altas cifras de investimento,
hoje tendo várias praças esportivas abandonadas.
O
eleitor assiste a um governo, que acaba de completar um ano após o conturbado
impedimento do mandato da presidente Dilma, viver a revelação de episódios
escusos da relação do poder estatal e privado sem precedentes na história. Não
houve escândalo algum para aproximar do que estamos vendo hoje. O que se
propaga como urgência de aprovar reformas, especialmente a política e
previdenciária, termina em papel de coadjuvante frente às mazelas cometidas
pelas pessoas públicas que as coordenam.
Isso
tudo também a pouco menos de um ano para elegermos deputados, senadores,
governadores e presidente. O prognóstico não é nada animador. A mudança de
financiamento público de campanha não tira das mãos de quem obtém o capital
financeiro formar os potenciais eleitos. Fazer campanha para não reeleger
ninguém é uma voz que se sufoca diante da máquina de fazer política trabalhando
para reeleger quem lhe é conveniente, seja com os mesmos atores ou seus herdeiros.
No
momento em que como população mais temos acesso à informação, menos coisas
ficam escondidas e mais preocupação para quem vive à margem da lei, do outro
lado da moeda continuamos refém de um ciclo vicioso que se regenera em cada
revés, e com poucas perdas obtém ganhos sem fim. A mesma mão que deixa escorrer
um pouco do tufo de poder, logo já está abocanhando mais.
Onde
está o fio da miada dessa história? Não dá para ignorar a relação de
cumplicidade e subserviência entre os três poderes. Enquanto tivermos um
judiciário à serviço do executivo, o executivo á serviço do legislativo, o
legislativo à serviço do judiciário, com recíprocas verdadeiras, não temos
muita chance de ver mudanças profundas na raiz da questão. Entre mala e malas
descobertas, vemos que a mudança precisará de porções muito maiores para
acontecer.
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