Não é a presidente Dilma que está sofrendo um progressivo e traumático processo de impedimento. É o Brasil. Com isso não atesto que o impeachment é um golpe, que não existe base legal ou qualquer discurso que esbravejam os aliados do governo, mas sim, com o olhar mais profundo, vemos que o projeto de poder dos grupos que nos governam é que historicamente trava o Brasil desde a democracia iniciada nas Diretas Já.
Dilma perdeu a governabilidade logo ao pegar a sucessão de Lula, a bolha da aplicação dos projetos sociais sem planejamento, e em especial os grandes esquemas de corrupção como Mensalão e Petrobrás, culminou em estourar em suas mãos. A habilidade política é inexistente, visto não ter ocupado nenhum cargo eleitoral antes de assumir o mais alto posto do país. A oratória é um desastre, o carisma idem. O que sobra?!
Sobra ser controlada pelos caciques do seu partido e por quem tem maioria no Congresso Nacional. A escolha do seu nome foi uma alternativa depois de muitas caírem por terra. José Dirceu, Palocci e Genuíno eram sucessores em potencial. Todos caíram. Precisavam de um perfil que destoasse do desgaste dos grandes do PT. Sobrou a Dilma. E para ela sobrou a bomba armada.
O principal responsável tem nome: PMDB. Um partido que veio do outrora aguerrido MDB, e com tanta sede de poder que cresceu na ditadura, viu aliados seus fundarem outros projetos políticos, tais como PSDB de Fernando Henrique Cardoso e o PT de Lula. Mas o PMDB cresceu ainda mais. Não precisou ganhar nenhuma eleição com a cabeça de chapa, mas em todas foi o aliado de primeira obra, com controle das duas casas legislativas federais.
É incalculável o mal que o PMDB faz ao Brasil, juntamente com PT e PSDB, cada um em seu tempo. A estratégia deu muito certo para o continuísmo: Priorizar o legislativo, e negociar posteriormente o apoio com o executivo. Mesmo quando saía em uma eleição na chapa perdedora, ao iniciar o novo governo estavam abraçados.
Assim como no impeachment de Collor, a maior sigla do país se novamente se vê na possibilidade de assumir a maior cadeira do Brasil. Não precisou de eleições para isso, era só passar para o lado certo na hora certa. O cenário agora é muito diferente de quando Itamar Franco assumiu em 1992. Não tem um novo plano monetário como o Real, nem uma pós-guerra fria para se construir novas relações de mercado. Agora o crédito já não é o mesmo.
Como pensar em mudanças concretas com a saída da presidente? A linha sucessória dos próximos três nomes são todos do PMDB. Um é o mesmo líder que já presidiu a Câmara e tem uma carreira de articulações pela manutenção no poder. O próximo é réu na Operação Lavajato da Polícia Federal, maior mantenedor do cargo de presidente usando todos os recursos do Regimento Interno da casa, o terceiro já renunciou mandato para sobreviver a processo, voltou ao topo naqueles ciclos que só a política partidária é capaz de fazer.
A saída de Dilma pode representar alguma oxigenação em termos de mercado, no ambiente político e social, porém, isso é só a ponta do iceberg. O velho PMDB está aí para tomar as rédeas, e continuar seu projeto de poder em altos escalões. Mesmo com processos enfrentados por Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, não se consegue tirar três homens com essa envergadura política. O caminho poderia ser a impugnação da chapa pelo TSE. Pelos ministros indicados por esses governos que sempre foram norteados pelo PMDB. Seria possível? Sim, mas está longe de ser uma realidade.
Se convocada novas eleições, o que acontecerá? Qual nome tem sido levantado para potencializar uma nova perspectiva de comando do executivo? São perguntas que não tem respostas fáceis. O brasileiro tem saído às ruas, vestido de amarelo e exigido mudanças. Mas quando essas mudanças virão no voto? Qual dos mais de 30 partidos pode assumir? O impedimento maior até o momento é de todo o Brasil.
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