E agora, carnaval?
A festa acabou,
a luz desligou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, carnaval?
e agora, folião?
você que é sem nome,
que veste abadá,
você que faz enredo,
que pula, extravasa?
e agora, carnaval?
Está sem mulata,
está sem bateria,
está sem alegoria,
já não pode beber,
já não pode agarrar,
dinheiro já não há,
a noite esfriou,
a quarta de cinzas chegou,
o ritmo se perdeu,
o riso acabou
não veio a utopia
e tudo se findou
e tudo fugiu
e tudo se guardou,
e agora, carnaval?
E agora, carnaval?
Sua falsa alegria,
seu instante de delírio,
sua gula e bebedice,
sua mídia,
sua estampa de ouro,
seu terno de purpurina,
sua incoerência,
sua tristeza - e agora?
Com a bandeira no chão
quer abrir a porta,
não existe abre-alas;
quer morrer na avenida,
mas a avenida abriu;
quer ir para a Sapucaí,
Sapucaí não há mais.
carnaval, e agora?
Se você gritasse,
se você caísse,
se você tocasse
o samba portelense,
se você desmaiasse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, carnaval!
Sozinho sem apitos
qual bicho-do-mato,
sem desfiles,
seu carro desmontado
para se encostar,
sem Globeleza
que sambe a galope,
você marcha, carnaval!
carnaval, para onde?*
Após um período de férias, o Feira de Assuntos volta para ser espaço de opinião, reflexão, edificação e troca de idéias. Novidades no lay-out, ferramentas e conteúdos estão por vir. O blog, assim como muita coisa nesse país, volta agora, mas 2012 já começou com tudo, desde o primeiro dia de janeiro para os em sã consciência e de atitude, e espero que cada vez menos essa dita festa popular seja o divisor do calendário para dar início de fato a um novo ano. Enquanto essa mentalidade estiver na cabeça do brasileiro, as consequências dessa prevaricação irão ser cada vez mais prejudiciais.
* Paráfrase do poema "E agora, José?" de Carlos Drummond de Andrade.
Aplausos pro sinhô!
ResponderExcluirE agora, Feira de Assuntos? Vamos ver essas novidades...