Blog do Paullo Di Castro


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Comemorar o quê?


O 7 de abril foi a data escolhida para a comemoração do Dia do Jornalista no Brasil, em homenagem ao ítalo-brasileiro João Batista Líbero Badaró, morto por perseguição política durante uma marcha estudantil em São Paulo, nessa mesma data em 1830. Pra quem buscava inspiração na Revolução Francesa, a dura realidade brasileira da época o fez pagar com a vida o que defendia de corpo e alma.

De lá pra cá, passando pela Ditadura Militar, período em que centenas de jornalistas foram mortos e torturados, não houve mudanças significativas com o tratamento, vide o conceito e a prática de democracia em nosso país, ainda vemos atitudes de coronelismo, especuladores e o poderio econômico confrontando a liberdade do jornalista, privando-o muitas vezes de fazer seu trabalho da maneira qualificada como se preparou.

O maior tiro na espinha foi dado dois anos atrás pelo então presidente do STF, Gilmar Mendes, que sentenciou, com a cumplicidade de seus colegas, a queda da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Depois disso, realmente é difícil comemorar alguma coisa. O uso de registro precário para os antigos profissionais não impedia a valorização da formação, da ética de quem estuda quatro anos na academia, assunto que já chovi no molhado nesse espaço.

A desilusão do ofício pode ser explicada no confronto com a realidade dura do mercado, com baixo piso salarial, as jornadas estressantes, o ingrato deadline, o mal trato de algumas fontes, da hierarquia superior, muitas vezes composta por gente que não sabe nada de comunicação. Fatores esses que desanimam o profissional que idealizou um mar aberto de oportunidades, um certo glamour, e viu a duras penas que essa faixada era muito superficial.

O que ainda motiva os corajosos dessa categoria a prosseguir? Nada, se não a paixão, a vontade de mudar as coisas, mesmo em meio a muitos desabafos (as redes sociais que o digam, além de serem ferramentas poderosas para o trabalho), podem reclamar, e reclamar, e reclamar, mas ali dentro ainda existe uma chama pronta a fazer a diferença, trabalhar a informação de modo que chegue ao público como um produto de alta função social.

Apesar dos pesares, feliz Dia do Jornalista!

3 comentários:

  1. Comemoramos a existência dos que enfrentam tudo isto e ainda tem orgulho em dizer: "Sou jornalista!"

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  2. Faço minhas as suas palavras, amigo. Apenas na parte da paixão eu creio que com o tempo vou acabar formando outra opinião, já que este é o mais comum argumento entre os empresários de comunicação para nos pagar mal - "Ah, jornalista não trabalha por dinheiro, e sim por paixão"....

    grande abraço!!

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  3. Isso aí João! E Eduardo, tens razão, o combustível que nos alimenta é o mesmo que usam pra nos queimar. Abraço.

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