Blog do Paullo Di Castro


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Balanço Olímpico




Não foram os Jogos Olímpicos que os brasileiros esperavam muito menos os atletas, patrocinadores e boa parte da crítica especializada. Um saldo de medalhas muito aquém da grandeza de nosso país, da nossa economia e recursos humanos. Algumas lições marcaram essa competição:

1)   Nunca superestime alguns atletas, e nem subestime outros. Todos chegaram lá por méritos e supostamente tem chances de conquistar lugares altos. As duas medalhas de ouro individuais vieram de atletas “desconhecidos”, que eram sombra de nomes fortes que estão acostumados a bajulações. É obrigação da imprensa que cobre os jogos saber do histórico de todos os atletas, e não ter o carão de confessar que não conhece esse ilustre novo campeão que surpreendeu a todos com o ouro.

2)   A briga de Globo x Record empobreceu o espetáculo no Brasil, pela primeira vez não sendo a emissora oficial, o plim-plim tratou com desdém a competição, chegando ao ponto de no início não pegar imagens da concorrente, preferindo pagar mais caro pelas de fora. Por sua vez a Record apanhou no ineditismo da transmissão, com âncoras mal preparados como até a experiente Ana Paula Padrão, e destinando pouquíssimas análises pós-jogos, deixando a noite carente de informações, mesmo com o horário britânico não batendo, era importante destinar mais o horário nobre e fim de noite para a atualização do dia dos jogos.

3)   A Seleção Brasileira de futebol masculino NÃO É IMBATÍVEL. A ausência da Argentina não ia mudar isso. Mano Menezes está capengando a um bom tempo, após essa primeira prioridade fracassada, deve sobreviver até a Copa das Confederações, última tentativa de consertar algo pro Mundial no Brasil. A figura de Neymar nunca brilhará nos momentos decisivos se o moleque não tomar um chá de realidade e os flashs sobre ele não diminuírem. Na feminina, infelizmente não vivemos só de Martas, o esporte não crescerá; a vitrine midiática, e a própria cultura do país é totalmente tomada pelos homens. 

4)   Que nosso vôlei é um dos melhores do mundo é notório. Foram os que mais brilharam mesmo o ouro só vindo com as meninas da quadra. As duplas da areia brigaram de igual pra igual, e merecem terem suporte maior. A renovação das seleções está sendo sofrida, e só teremos outras gerações vitoriosas se as autoridades acordarem e der o apoio que o esporte tanto precisa, investindo na formação de atletas. Se dependermos de lugares como Goiânia, que tem um buracão de terra no lugar do que seria um Centro de Excelência, a tendência é só cair.

5)   Nosso atletismo sofre com a pouca exposição e investimento. Os fracassos dos maiores nomes mostram a carência de revelações, de quem chegue com a mesma qualidade para disputar medalhas. Alguns tipos que poucos conhecem podem trazer bons frutos, bastam incentivos, políticas públicas pra dar acesso a uma preparação para crianças de baixa renda. É tão pouco perto da mudança de vida que famílias podem passar com isso.

6)   Os esportes aquáticos tem um leque maravilhoso de modalidades, sujeitos a grandes conquistas. Mas a realidade é dura, atletas que querem melhor preparo vão treinar fora, muitas vezes com recursos próprios, e perdem a própria identidade com o país, falando besteira de vez em quando. Quem muito ganha no Pan, não reflete o mesmo sucesso nas Olimpíadas, ali o nível é completamente diferente. E não é com a fraca estrutura que o país fornece que isso irá mudar.

7)   As lutas são outras meninas dos olhos, mesmo sem tantas conquistas, sempre se espera uma surpresa dos lutadores, tem gente que ligou a ascensão do MMA pra se ter maiores vitórias agora. Não tem nada a ver, a prática de cada um demanda tempo, muita dedicação, e uma exposição maior, o que vemos nos duelos do UFC é uma jogada midiática de quem conseguiu vender bem esse peixe. Já o das competições segmentadas, o adversário da falta de apoio é o maior de todos.

8)   O basquete olha com saudade para tempos distantes, em que outras gerações brilhavam e a um bom tempo não se repetem. As brigas internas de dirigentes, e os novos quadros de organização ainda estão longe de produzir um bom resultado. Achar que os poucos que jogam na NBA salvam o time, tendo um abismo na preparação de lá com a realidade daqui, é acreditar em conto de fadas.

9)   Esportes pouquíssimos conhecidos podem ser celeiros de grandes conquistas, basta pra isso sair do amadorismo. Não é pouca coisa, mas perfeitamente possível. Ficar dependendo de classes A e B, consequentemente de “paitrocinadores” não formará mais campeões.

10)   O Brasil será sede dos dois próximos eventos esportivos de maiores expressões. Megas estruturas estão sendo construídas. O uso posterior delas é imprescindível para a formação de novos atletas, fomentação das competições regionais e nacionais. Cada país sede dos últimos torneios conseguiu façanhas em seu planejamento e execução, aqui em muito já passamos a conta de gastos, licitações e financiamentos. Arenas multi-uso poderiam agregar muito para a economia além do esporte. Os resultados disso, bons ou não, marcarão o futuro do país.

A verdade é que pra 2016 o cenário está perturbador. Não bastassem os problemas da organização, superfaturamentos e riscos estruturais do Rio de Janeiro, que acumula a responsabilidade imensa do Mundial de Futebol daqui dois anos, nossos competidores estarão lutando contra adversários maiores que seus concorrentes. O principal é a inércia de quem mais pode incentivá-los a seguir com segurança essa carreira.

Não só o governo, mas a imprensa, os dirigentes e a iniciativa privada, assim como a sociedade em geral pode dar o prestígio que esses guerreiros precisam, e que levam o nome do Brasil pra fora, nos dando poucos momentos de alegria. Lembrar-se de nossos atletas dos esportes especializados apenas de 4 em 4 anos não mudará o quadro que vemos hoje. 


2 comentários:

  1. Paullo, completo e original o conteúdo! Só um detalhe, quando mencionei a culpa da imprensa por esse fracasso olímpico, fui bloqueado no twitter por um "jornalista". Qual será o conceito de Liberdade de Expressão que ele deve ter?

    ResponderExcluir
  2. O mesmo conceito de quem o paga, e tem interesses muito maior do que a liberdade de quem quer que seja.

    ResponderExcluir