Blog do Paullo Di Castro


terça-feira, 19 de maio de 2015

Memórias de um ex-torcedor


O futebol brasileiro surpreendeu o planeta em 58 com um jovem de 17 anos que virou o melhor do mundo, logo depois em 62 um "anjo de pernas tortas" deixava os adversários com torcicolo, a constelação de 70 sacramentou uma hegemonia e um grito além da ditadura militar, a experiência de craques em 94 como um baixinho que fazia gol de cabeça entre dois zagueiros gigantes ou um fenômeno que teve uma recuperação pós-cirúrgica extraordinária e decidiu o penta em 2002.

Memórias de um passado que vai se tornando cada vez mais distante e não conquista uma nova geração de torcedores apaixonados, que durmam abraçados com uma bola e vão ao estádio em família acompanhar a seleção brasileira ou o time de coração. A Copa do Mundo que idealizada conquistas mágicas agora faz parte de um pesadelo que a maioria dos brasileiros depois de 2014 quer esquecer.

Que a Confederação Brasileira de Futebol é a entidade privada que mais lucra no país todos sabem, que fizeram lobby pra abafar a CPI da Nike em 2001 também, que sempre foi comandada pelo quarteto João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marco Polo Del Nero idem. 

Além da noticia de uma terceirização do futebol da Seleção Brasileira para outra empresa privada explorar de todas as formas possíveis e inimagináveis, da bilheteria à escalação do time em amistosos, tudo passar por eles, e assim engordam o bolso de todos, às custas claro, do torcedor. Agora sete poderosos da cartolagem brasileira, incluindo Marin, foram presos na Suíça pelo FBI. As acusações são de uma interminável lista.

Os que muitos desconfiavam mas poucos viam vai sendo aberto, o cerne da podridão das negociatas por trás da amarelinha entrar em campo. Não bastam negociar partidas ou campeonatos, como o muito mal explicado Mundial de 98, é preciso também operar para usufruir de todas as possibilidades de lucro para a cartolagem se deliciar com o dinheiro, poder e o que mais o circo armado permitir.

Torcer para a seleção brasileira hoje é alimentar espetáculos caça-níqueis, de jogadores que ignoram as raízes e se dedicam a uma bem sucedida carreira européia. Mais nem tão cumplices quanto os dirigentes e empresários que se esbaldam em cima de nós e contam com conivência da maior emissora de TV do país monopolizando a transmissão e repassando migalhas para concorrência. 

Torcer para o clube do coração ainda gera uma identificação, a proximidade que nunca uma seleção comandada por poucos vai trazer. Meninos hoje em dia preferem ganhar muitas coisas a ter um uniforme oficial ou uma bola para sonharem ser um novo Pelé. 

O processo de esfriamento da relação entre seleção e torcedor alcançou patamares nunca vistos. As consequências serão visíveis em poucos anos. Aos mais velhos, restará a nostalgia, a flâmula na parede, o pôster do Penta, o suspiro... Lembranças de quando tinham para quem torcer representando o Brasil.

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