Blog do Paullo Di Castro


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Rock in Sofá

E foi-se o primeiro fim de semana do Rock in Rio, que pra mim bem que poderia ter sido o único, trocando umas atrações da geração 2000 MTV. Alguns momentos realmente dava vontade de estar lá, naquela multidão imensa sentindo os amplificadores penetrar nos seus ouvidos, com todo aquele cenário megalomaníaco, mas, mesmo longe dos 40, o melhor programa ainda parece acompanhar tudo do sofá.

Nem fiz questão de me programar pra ver os shows que queria. O que foi legal é que nos dois horários que não me impediram de fazer absolutamente nada no meu fim de semana: o fim de tarde e o fim de noite/madrugada, já rolavam os shows que mais queria ver, a única coisa que deixei de fazer pra assistir foi dormir o necessário. Mas o que são umas horinhas de sono pra se ouvir um momento único daquelas bandas que estão no seu playlist desde que você se entende por gente?

Começou a festa na sexta-feira, passei o ouvido por uns encontros no palco Sunset que absolutamente não me agradaram. Mas logo pra compensar vi mais uma vez a união das duas das bandas brasucas que mais devo ter ouvido na vida: Paralamas e Titãs. O show em si não era muita novidade, visto que já fizeram turnês juntos, tanto que já os vi em Goiânia, mas a emoção de dois repertórios que só tem hits juntos, Hebert se revezando com Miklos, Britto e Branco, além das duas bateras quebrarem tudo, acompanhado dos metais, e com uma novidade agora: a Orquestra Sinfônica Brasileira deu um colorido a mais aos repertórios das bandas. Quanto às "estrelas" da noite, Katty Perry, Rihanna e Elton John (respeito mas não gosto)? Próximo dia, por favor!

O segundo dia pra mim só se resumia em em quatro palavras, abreviadas por RHCP, mas ainda tive a surpresa de ver a Nação Zumbi, que estavam meio sumidos, colocar o mangue pesado de Recife em evidência, com Tulipa Ruiz de brinde. Assisti a um pouco do Stone Sour e nem lembrava que Mike Portnoy tava tocando com os caras, depois vi alguma coisa do Snow Patrol. Mas a noite já bastava pra conferir o Red Hot Chili Peppers. Flea pra varia usando camisa da seleção, calça rosa (melhor que só cueca), e claro, tocando o baixo como se fosse a última coisa que faria na vida, Chad Smith com os grooves precisos de sempre, e com uma batera de acrílico lindíssima. Anthony parecia bem centrado, e o guitar novato Josh Klinghoffer não é um Fruciante nem um Navarro, mas tem luz própria, só da banda não tocar tão chapada como foi em 2001 já foi ótimo, que showzaço!

O terceiro dia é aquele que honra o nome do festival, apesar de terem uns arranjos injustos, como bem lembrou Bruno Medina aqui, a noite prometia lavar a alma de quem se indignou com as atrações enlatadas do festival. no fim da tarde acompanhei o Angra chover a muralha de guitarras, e ter a presença quase inusitada de Tarja, ex-Nightwish, quem conhece seu vocal diferenciado, sabia o que esperar, mas não se esperava era a limitação de Edu Falashi, que com quase unanimidade de opiniões nas redes sociais, cantou muito mal, mas até compensou em alguns sucessos clássicos. Queria até ver o Sepultura, mas nem perdi muito, depois deu pra acompanhar um pouco do Motörhead, Lemmy sempre o ogro mais rock'n roll que eu já vi, power trio cruzão, sem frescuras, impossível não lembrar a decepção do show deles cancelado em Goiânia.

Coheed and Cambria e Glória vi pouca coisa, fora a curiosidade de ver Eloy Casagrande nem me interessava, quando começou o Slipknot, fiquei meio paralisado, parei de ficar vendo os outros comentários na net e trocando PC e TV e concentrei no espetáculo trash, brutal e inventivo dos mascarados. Não é som pra se ouvir com crianças, com certeza, mas tentar entender a concepção musical dos caras é no mínimo interessante. Depois de ver a batera rodopiar de todas as formas, fogos e sangue, um intervalo de atraso que só não foi estressante pelo que acabava de ver.

O Metallica finalmente entrou no palco e cumpriu a risca todas as expectativas. Uma carreira como a deles permite um repertório que parece até rápido tal a vibração que impõe aos amantes do metal, e olha que foi o show mais longo. Não são mais os mesmo mocinhos dos anos 80 e 90, mas a energia continua lá em cima. A banda se destaca pelo coletivo, o líder imponente e os outros "disciplinados", o batera Lars Urich, muito bom de papo, faz o arroz com feijão, e deixa uma sensação que a banda poderia ser melhor servida, mas quem ousa contestar o seu papel na história do Metallica? Deixa o enjoado lá.

Valeu a audiência, aguentar os repórteres da Globo batendo cabeça por falta de informação, o som sofrido que retransmitiam os shows, mas tudo isso de graça no seu sofá, não dá muito pra reclamar. O próximo fim de semana não merece a mesma atenção que esse, mesmo com Steve Wonder, Jamiroquai, System of a Down e até o Coldplay destoando dos demais, é muita porcaria junta pra gente considerar um Rock in Rio de verdade. Melhor esperar o SWU!

sábado, 10 de setembro de 2011

Brasil do 7, do 11, do 21, de todos setembros


Parece que sempre temos pautas inevitáveis em certos períodos do ano, seja por fenômenos da natureza, por datas de acontecimentos marcantes, por feriados ou ocasiões meramente comemorativas que são o filão para o comércio vender uma imagem em cima de um sentimento específico. Tudo como uma grande roda-viva que se diferencia pelas peculiaridades que um dia após o outro pode trazer.

Não quero falar de 11 de setembro, chega! Cansei, passou, lições foram aprendidas, egos foram feridos e vidas sacrificadas. Também prefiro não citar enchentes no sul, tantas cidades alagadas, casas com tudo dentro perdido, famílias se amontoando em ginásios. A necessidade de mobilização, solidariedade, chega tímida, não mais que as providências das autoridades. Igualmente não falarei sobre seca, meio ambiente castigado, os problemas respiratórios, dificuldades com a escassez do elemento água, a chuva que um dia finalmente virá.

Falar de Brasília? Pior ainda! Lembrar que o projetista daquela perfeição arquitetônica com mais de um centenário de vida concluiu que deveria ter feito um camburão em vez de um avião no traçado, para assim abrigar a espécie de representantes do povo naquele lugar, que usam como pinico um vaso de flores. Precisa falar mais sobre peculato, propina, uso inadequado do dinheiro público? A informação já chegou! A mudança, não.

E o futebol? Não era nossa menina dos olhos, uma seleção imbatível, com craques disputados nas mais altas cifras dos mercados da bola? Onde está a soberania? Ficou em algum gramado europeu, na crava da chuteira de jogadores que sequer pisam no Brasil. Foi usada como concreto para reformar algum estádio para a Copa de 2014? Onde está a transparência, as prestações de contas das licitações ? E as contas do presidente vitalício da CBF, quem tem cacife para derrubá-lo?

Olha que ficamos só nos nossos problemas, e se formos servir de colo para o Egito e a Líbia? Que palavra de esperança temos pra eles, vindos de um país emergente em pós regime ditatorial que custa tanto a aprender andar nos passos democracia? Viramos um modelo de como não fazer? Ou recomendamos que entrem no falido método socialista do vizinho Hugo Chavez e da ilha de Fidel?

No meio disso tempos que dar espaço para diversidade sexual, para a religiosidade partidária, para direito disso, daquilo, do segmento x, da representatividade y. Onde estão nossas prioridades? Morrendo nas filas de pacientes vítimas da negligência do atendimento de saúde público? Ou esquecidas e sem o aparato para se receber educação digna?
É fato que datas como a Independência do Brasil, tenha o valor titular que tiver, ou o atentado às torres gêmeas de Nova York, mexem com o brio de todos. Paramos para pensar na vulnerabilidade do ser humano, e a dificuldade de se impor diante dos desafios inesperados, ou aqueles ao qual nunca estamos prontos. Como brasileiro, resta não virar as costas para as duras realidades que nos rodeiam, e deixar de ser apenas indignado, perplexo para ser agente de mudanças sociais profundas, sempre mais fáceis no discurso que na ação.

domingo, 4 de setembro de 2011

Parei de contar

Parei de contar um ponto
para quem sabe fazer amar
e terminar em um breve conto
o que não queria acabar.

Queria ter um incentivo 
de fazer de novo, e procurar unir,
mas não se passa no crivo
quando muito se quer insistir.

Uma brasa fora da chama
logo vai  apagar
o desejo de quem se ama.

Voltar a sonhar
as vezes parece um erro maior,
de quem só queria amar.